Filmes para criança são um mistério para mim. Falam das coisas da vida de uma maneira simples, fazem rir do fundo da alma, divertem de uma maneira despretensiosa. Sorrisos brotam mesmo que você já saiba desde o início como o filme vai acabar. Assim é Como treinar seu dragão, animação da DreamWorks (How to train your dragon – 2010), mesma produtora de Shrek, Madagascar e Kung Fu Panda.

A animação 3D teve estreia no Brasil em 26 de março de 2010. A ideia geral do filme foi baseada em livros da autora britânica Cressida Cowell, com roteiro escrito e dirigido por Chris Sanders e Dean DeBlois.
De início encaramos Soluço, o típico adolescente que não se encaixa. Mas desta vez não estamos em uma high school americana, e sim em uma comunidade viking. Soluço é franzino e desajeitado, nada do que é esperado do filho do líder viking. No entanto, ele não é o maior problema dos habitantes da ilha de Berk, eles têm que enfrentar dragões que queimam as casas, roubam os rebanhos e atrapalham suas vidas. Matar dragões é parte de “ser viking”, são inimigos declarados e convictos. Para se inserir no grupo e atender às expectativas paternas, Soluço precisa matar seu primeiro dragão, mas tem seus valores postos em xeque quando a ocasião se apresenta.
O filme traz à tona diversos conflitos humanos revisitados. Por exemplo, o garoto em si é a questão da força versus inteligência e qual ganha no final. Soluço não é bobo, pelo contrário, mas definitivamente não é como os outros. Ele é a nova geração que vence preconceitos, quebra as regras e descobre que há mais além de si. Há o velho clichê da guerra de gerações, mas a animação contém boas sacadas e piadas inteligentes, além de momentos tocantes. Velhos assuntos, novo formato, já que a novidade 3D ainda encanta muito. O filme tem algo de antropológico ao mostrar que é possível ver o mundo do ponto de vista do outro e avaliar por outra perspectiva sua própria sociedade, educação e dogmas. Ao longo do filme, dragões selvagens e vikings teimosos irão muito além de seus mundos porque há questionamento.
A história tem seu mérito por colocar sob um outro holofote o velho bem contra o mal. Ao invés do relativismo, prefere abordar o problema da opressão e dos preconceitos e como sobrepujá-los. Quem nunca se sentiu desajeitado e sem amigos? Quem nunca tentou estar à altura das expectativas? Quem nunca guardou um segredo que os outros não entenderiam? Quem nunca quis mudar seu mundo? Mesmo que você já tenha adivinhado o final, vença seus preconceitos e não perca essa.
Veja o trailer
[Sessão das 4, por Daniela Urquidi, abril de 2010]
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