À primeira vista, como quase todos os filmes infantis, o enredo é monótono: menino órfão quer encontrar a mãe para se sentir completo. De fato, o filme ganha força após as primeiras apresentações de personagens e situações. Lewis foi deixado em um orfanato pela mãe e, aos 11 anos de idade, corre o risco de nunca ser adotado. Ele não é um garoto comum, pois suas ideias vão além da previsibilidade de seu mundo. Lewis é um cientista nato que está sempre tentando inventar soluções e constrói engenhocas interessantes. O filme começa mesmo quando ele decide que só pode ser feliz encontrando a mãe biológica e passa a trabalhar em um scanner de memória que o ajudará a identificá-la através de suas lembranças. Sua invenção, no entanto, é roubada pelo bandido do chapéu coco, mas as consequências disso serão maiores do que eles poderiam supor. Wilbur Robinson, um garoto do futuro, ajudará Lewis na recuperação da máquina e na busca de seu próprio destino.
Não só as invenções de Lewis são brilhantes e surpreendentes, os desenlaces do enredo são bem originais. É mais do que uma lição para crianças sobre acreditar em seus sonhos e lutar para alcançá-los. É um lembrete aos adultos de que eles podem, sim, fazer a diferença para os outros, sejam os mais próximos ou não. Como outros protagonistas, Lewis vê o mundo de uma maneira diferente, até o momento em que ele deve decidir investir ou desistir de seus sonhos. Ser diferente ou ajustar-se? É então que entra a família Robson para provar a ele e a você, espectador, que o mais importante é o indivíduo, não os moldes. Você é especial pelo que é, da forma que é, mesmo com imperfeições e maluquices. Eles são a família unida que a Disney desejaria que todos tivessem. Sem passar pelo melodrama, as cenas dos Robinsons são engraçadas e inusitadas. Eles não ficam atrás dos vilões divertidos que dão à história sua razão de existir. O aspirante a vilão e seu chapéu coco, Dóris, põem em pauta a fragilidade da busca rancorosa por glória.
Moral da história: relacionamentos são importantes, especialmente os familiares. E nunca desista de seus ideais, mesmo que falhe: “siga em frente” (“keep moving forward”). Apesar da síntese banal, sei que você se surpreenderá com a inteligência do roteiro que atualiza criativamente antigas questões. Para dizer a verdade, muito do que está no filme vai além da compreensão infantil. Especialmente madura é a música que Rob Thomas compôs para o desenho antes mesmo de receber o roteiro (o que surpreende pela pertinência em relação ao enredo). Little Wonders fala sobre deixar o passado, perdoar, ser perdoado e viver o presente. Não é preciso tirar as crianças da sala, mas faça o favor de assistir a versão legendada.
Pronto para Todayland?
[Sessão das 4, por Daniela Urquidi, abril de 2010]
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