Hoje minha avó amanheceu triste: seu coelhinho morreu. Triste na verdade é pouco, ela estava desolada, inconformada, acabada, questionando a morte de seu companheiro. E enquanto ela se encaixava no meu abraço e eu ouvia a história toda, consolei minha avó da morte.
O “coelhinito” já não era o mesmo de antigamente, estava lento, olhos caídos, reflexos tardios. Já não tinha o mesmo apetite, a mesma energia, já vivia por pouco. O seu fim era certo, os bichinhos não são eternos e nos fazem falta quando se vão. Mas parece que ela não percebeu a mudança que o deixou mais parecido com ela.
E enquanto eu consolava minha abuelita – dizendo que se sentisse feliz pela boa vida que o finado viveu graças a ela, pelas alegrias que lhe trouxe, mas que chorasse se quisesse a falta que faz – percebi que consolava a mim mesma por antecipação. Minha avó menina diante dos meus olhos precisava de abraços, beijos e consolo de que a vida continua depois da morte de alguém querido.
A morte lhe surpreendeu apesar de seus 90 anos, de já ter sobrevivido ao marido e a praticamente toda a sua geração. Será que conseguimos nos preparar para o vazio insondável de não ter aquele que mais amamos? Hoje, eu pratiquei um pouquinho, pensei no futuro, na incerteza da certeza da morte e nos golpes que já estão a caminho.
[por Daniela Urquidi, 12/02/2019]
R. I. P.
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