Misturando elementos míticos com a Guerra Civil Espanhola, ele conta a história da imaginativa Ofelia (Ivana Baquero). Aos treze anos (1944), ela se muda com a mãe grávida (Ariadna Gil) para a casa do padrasto, um capitão franquista (Sergi López) responsável por eliminar a resistência republicana do local. O clima não é nada propenso à imaginação. Há tensão, mortes e violência em toda parte. Porém, Ofelia consegue sobrepujar essas dificuldades e viver (criando) seu próprio mundo.
“A inocência tem um poder que o mal não imagina”
É por meio do fauno do título que a menina descobre que é uma princesa que há muito se perdeu ao sair do reino subterrâneo de seu pai. Conta a lenda que esta princesa retornaria ao seu lugar, mas antes a menina deve passar por três testes para provar se é e realmente merece ser a tão aguardada princesa. Ninguém mais compartilha ou entende o mundo encantado de Ofelia além de suas fadinhas e do monstruoso fauno.
Misturando fantasia e realidade, a trama se enreda por momentos emocionantes, tristes, ternos, de aventuras e com um certo clima de revolta contra a crueldade daquilo que precisa ser o mundo real. Todo espectador de O Labirinto do Fauno chega a uma encruzilhada: imaginação infantil ou realidade? A pergunta não é se existem fadas ou faunos,
mas se Ofélia realmente viu o que viu e fez o que fez ou simplesmente imaginou tudo em sua mente. Quando nos entretemos com um conto maravilhoso, aceitamos suas regras e acreditamos na verossimilhança interna. Mas Guilhermo del Toro gosta de brincar com nossos padrões pré-estabelecidos e deixar-nos confusos quanto às verdadeiras regras do jogo. Cada um terá que refletir e decidir se Ofélia alcança o que busca ou desperdiça suas oportunidades.
Trata-se de um filme intrigante, sem dúvida nenhuma feito para adultos dispostos a questionar o que vale a pena na vida e quais as batalhas que merecem ser lutadas. O Labirinto do Fauno nos relembra que a fantasia pode libertar-nos da secura da vida, mesmo que através de uma fantasia sombria. Mais do que falar de monstros (fantásticos ou humanos), Guilherme del Toro fala de opções. Sempre há pelo menos dois lados. Escolher nunca termina enquanto se está no labirinto.
[por Daniela Urquidi, setembro de 2010, no blog Sessão das 4]
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